Meu primeiro show do Bruce Springsteen


Por: Hilary Hughes

Existem estrelas do rock que lotam arenas, tocam por três horas e meia em qualquer noite da semana e fazem canções que têm sido a trilha sonora da cultura popular americana nos últimos 40 anos, mas continuam soando como se tivessem sido escritas ontem. E existem estrelas do rock que fazem todas essas coisas e abrem mão de seus lugares no palco para irem dançar com as suas mães na arquibancada.

Bruce Springsteen é, e tem sido, esse tipo de estrela do rock.

No início desta semana no Madison Square Garden, Springsteen trouxe a turnê The River de volta para Nova York: O show foi originalmente agendado para 24 de janeiro, mas uma nevasca na cidade naquele fim de semana impediu os caminhões e ônibus que transportam Bruce, a E Street Band e os instrumentos de chegarem. Aquele concerto foi o primeiro de dois que haviam sido planejados para aquela semana, o segundo ocorreu sem problemas, mas, devido à desgastante travessia da turnê pelo país, a data foi remarcada para dois meses após o episódio.

Isso foi uma grande decepção para mim no momento, a (então) debutante que vinha esperando esse show como uma criança espera o Natal. Não fui criada de maneira diferente do que a maioria das crianças que se tornaram fãs casuais por causa dos pais em 1984: "Born In The USA", "Dancing in the Dark" e "Glory Days" serviram como algumas das minhas primeiras memórias musicais, com "Dancing in the Dark" destacando-se especialmente como uma constante na minha infância. Meus pais tinham os seus favoritos - Whitney e Madonna para a minha mãe; os Stones, Robert Palmer e ZZ Top para meu pai, e quando eu recuperei as caixas de vinil da pilha para venda de garagem no sótão há alguns anos atrás, eu não encontrei qualquer coisa do Springsteen pra trazer para casa. Minha educação em Springsteen, como resultado, é rudimentar, no melhor dos casos. Eu conheço os hits graças à minha tendência as estações de rádio de rock clássico que ouvia ao dirigir pelos subúrbios em torno de Bostonian quando adolescente; Assisti o clipe de "Dancing in the Dark" no YouTube depois de saber que foi ali que Courteney Cox mergulhou seu dedo do pé nas águas da fama. Eu raramente trocava a estação quando sua voz rouca tomava conta do carro, mesmo quando era aquela canção sentimental de Jerry Maguire. Eu, como meus pais antes de mim, era apenas mais uma fã mal comprometida.

Então, vê-lo ao vivo pela primeira vez quando ele está em turnê pelo álbum The River - o único álbum duplo de sua carreira, o que nos deu "Hungry Heart", "Sherry Darling" e "Cadillac Ranch", que ele gravou logo após seu 30º aniversário em 1979 - em 2016, é acidentalmente perfeito, na medida em que dá aqueles de nós que crescemos com ele, uma oportunidade para revisitar estes sucessos com orelhas e olhos frescos. Antes, os nossos flertes ocasionais eram com as linhas de sax do Clarence Clemons, o piano de Roy Bittan; Agora, 35 anos após o lançamento do disco com cinco certificados de platina, ver Springsteen e a E Street Band tocá-los de forma tão maravilhosa, é suficiente para fazer você lamentar o dia em que seus pais não salvaram a sua cópia do The River em cassete.

Dizer que Springsteen e a E Street Band são excelentes no palco é eufemismo, uma vez que sobem ao palco com a imensa capacidade de ler o seu público. O conforto que vem de tocar as mesmas canções por mais de três décadas é aparente na facilidade em que Springsteen, Steve Van Zandt e Nils Lofgren demonstram através dos seus vários solos e riffs; na fluidez de Jake Clemons, uma homenagem digna para as notas tocadas pelo seu tio que se foi tão cedo; na textura e luz oferecida pela
força do violão e backing vocal de Patti Scialfa e Soozie Tyrell; no peso das teclas de Bittan, nas linhas do baixo de Garry Tallent, e o pulso de tudo isso encontrado na bateria de Max Weinberg.

É este conforto total e completo em um estádio cheio de fãs gritando, que os habilitam a se divertir uns com os outros - e não apenas tocar, mas tocar com uma abordagem jovem, barulhenta, com Lofgren girando como um furacão e Jake puxando o Bruce para fora da multidão depois dele surfar por cima das pessoas. Springsteen correndo para a plateia novamente em direção a sua mãe para uma dança rápida e engraçada enquanto balançam os traseiros para a câmera. Adele Springsteen, aos 90 anos, bate palmas e sorri quando seu filho sobe as escadas para encontrá-la, e então você se dá conta que ela está dançando assim com seu filho por anos, desde muito antes de quando você dançou "Dancing in the Dark" com sua mãe na cozinha de casa quando você ainda tinha os dentes de leite.


 
E talvez essa seja a melhor parte de ver o Bruce pela primeira vez depois de ter crescido com sua música: Você é capaz de juntar as peças a maneira em que aquelas músicas soam como se você estivesse as ouvindo pela primeira vez. Você é capaz de perceber por que milhares de pessoas não se importam em esperar cerca de dois meses para o show ser remarcado em Nova York; porque ver Springsteen tocar no Madison Square Garden em 2016 é tão bom quanto ver Springsteen tocar no Madison Square Garden em 1984. Você é capaz de ter orgulho nas letras que você se lembra e abraçar o desejo de aprender as que não lembra. Você é capaz de saborear "Dancing in the Dark" pela canção que é: um hit que você vêm amando, se você percebeu ou não, há 30 anos. Você é capaz de não ser tão casual sobre isso, e esse tipo de apreciação vale a pena esperar até a idade adulta para se encontrar.

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