Em 9 de agosto de 1985, em Chicago, um dos grandes shows da Born In The USA Tour acontecia no Soldier Field Stadium para 71 mil e 222 pessoas. O áudio gravado no meio do público também é dos melhores da turnê, melhor inclusive do que vários captados profissionalmente hoje em dia.
Bruce não visitava a cidade fazia 5 anos e agora que o Chefe tinha virado um fenômeno mundial com seu novo álbum, sua ida à Chicago provocou alvoroço na população. A companhia Illinois Bell Telephone registrou cerca de 1 milhão e 100 mil ligações só na primeira hora que as vendas por telefone começaram, quase dobrando o número de ligações da região naquele horário. O preço dos ingressos era de $17.
O McCormick Center Hotel, por exemplo, abaixou o preço de seus 650 quartos para 49$ por noite ($56 com estacionamento) no intuito de atrair quem preferia passar a noite ali por perto do que enfrentar o trânsito pesado na volta pra casa. As autoridades da cidade inclusive adicionaram ônibus especiais para quem iria ao Soldier Field. A gerência do hotel calculou que metade de seus quartos estavam ocupados por roqueiros.
Antes, Springsteen tinha passado por outros dois estádios: em Washington e Cleveland. Shows em estádios podem ter vários complicadores como a distância e o som dos equipamentos, mas os produtores prometeram surpreender os fãs e tornar o estádio o mais parecido possível com uma arena pequena. Para isso, eles montaram um sistema com 200 alto-falantes (60 era o normal), 4 telões (um virado para os fãs atrás do palco) e o próprio cantor, que mesmo quando toca em lugares grandes, faz o possível para que todos tenham uma boa visão do espetáculo.
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Estádio Soldier Field em 1988, praticamente o mesmo de 3 anos antes |
Infelizmente, aquela sexta-feira não foi só de alegrias. Por volta das 13:30 um terrível acidente envolvendo sete jovens fãs ocorreu próximo ao Soldier Field. Os jovens vinham de carro desde Joliet (a cerca de 50 km dali) e testemunhas disseram que o motorista cruzou o ônibus fazendo-o capotar em cima do veículo. Outras relataram que o carro não fazia nada ilegal e que foi uma desatenção do motorista do ônibus. Todos os jovens morreram na hora. Em 1991, as famílias dividiram 11 milhões e meio de dólares de indenização do governo.
Foto do acidente. - AP |
Por volta do mesmo horário, várias pessoas já estavam acampadas em volta do estádio só aguardando a abertura dos portões. Com o calor intenso alcançando os 32ºC, os fãs se deitavam pela grama, jogavam futebol americano, frisbee e bebiam cerveja. E foi justamente as bebidas que fizeram os policiais abrirem os portões mais cedo (a programação planejava a abertura às 17:30, duas horas antes do concerto).
"Foi o fator de segurança", disse um policial. "Eles ficaram sentados por muito tempo consumindo bastante cerveja e já estavam começando a ficar barulhentos, então achamos que a coisa mais prudente a fazer era abrir os portões logo".
Na entrada, cerveja e poeira misturadas transformaram-se em um tipo peculiar de lama. Uma mulher de camiseta rosa disse: "Não acredito que eu vim de sapatos brancos".
No final do campo foram deixados chuveiros portáteis, que renderam boas guerras de água e concursos de camisetas molhadas.
Logo que subiu no palco, Bruce disse: "Cuidem uns dos outros. Se alguém precisar de água ou alguma coisa, ajude-o". E lá se foram quase 3 horas de rock and roll.
Logo que subiu no palco, Bruce disse: "Cuidem uns dos outros. Se alguém precisar de água ou alguma coisa, ajude-o". E lá se foram quase 3 horas de rock and roll.
Foram 28 músicas incluindo quase todo o BITUSA (ficando de fora No Surrender e I'm Goin' Down).
Passando por "Badlands", "Out In The Street", "Atlantic City" (onde Max Weinberg machucando a bateria), "The River" com o Bruce contando sua convivência turbulenta com o pai na adolescência.
Em "Glory Days", Bruce senta no palco e tira sarro da própria idade.
"Me deixa sentar um minuto... eu tenho que descansar, sabe... tô ficando velho. Tenho 35 agora. O Roy tem 36. Ainda tenho alguns meses de vida".
Em "My Hometown", Bruce repete o gesto corriqueiro em sua carreira: doar e em cima do palco pedir ao público doações para os bancos de comida da região. "Eu agradeceria se os ajudassem. E essa é sua cidade natal, faça algo por ela."
O segundo set veio com várias canções do novo álbum para não deixar a peteca cair. Na reta final do show, Bruce abriu o 'bis' com o cover de "This Land Is Your Land" do Woody Guthie, que ele havia voltado a tocar naquela mesma semana depois de quatro anos.
E para encerrar o Chefe sempre começa uma festa. Então que venha Clarence Clemons pra frente do palco. Uma sequência avassaladora de saxofone com "Born to Run", "Ramrod", "Twist and Shout" interligando o cover de "Do You Love Me?" dos Countours e "Sherry Darling" colocou a primeira fila e até os mais distantes pra dançar.
Em um texto sobre o show dois dias depois, o crítico Sid Smith escreveu: "Em um mundo de promessas quebradas, Bruce cumpre sua profecia em 'Out In The Street': 'O dia todo você trabalhou pesado, esta noite você vai se divertir'".
Ouça o áudio do show completo no link a seguir: https://drive.google.com/file/d/1Bw1OQj6P6m-EOPmIiPn3eD_GOoPlBP2s/view?usp=sharing
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