Por dentro de "Summer of Sorcery", o novo álbum de Steven Van Zandt

"Eu estava cansado de mim mesmo", diz o cantor, guitarrista e compositor da E Street Band sobre o que o inspirou a fazer o cinematográfico álbum, que será lançado no dia 3 de Maio.


Steven van Zandt sabe o que você está pensando, especialmente quando o assunto é sua música e não sua atuação. Você ouve o nome dele e imediatamente imagina um cigano de bandana na cabeça que toca e canta, como se fosse o dono da verdade, sobre política e a vida em uma América desafiada pela justiça. E ele não discorda de você. "Todos os meus discos solo anteriores eram muito polítizados e muito pessoais," ele diz de sua casa em Manhattan. "E eu queria me afastar dessas duas coisas. Eu queria ficcionalizar minha vida. Eu estava de saco cheio de mim."

Van Zandt primeiro passo nessa direção veio quando ele ouviu seu empregador de longa data, Bruce Springsteen, estaria na Broadway em 2017. "Eu disse, 'Eu poderia muito bem usar esse tempo','" ele diz. Naquele ano, Van Zandt reviveu sua inativa carreira solo, sua banda e diversas canções que ele escreveu para outros artistas mas nunca havia usado. "Logo que eu gravei 'Soulfire', eu disse, 'Eu deveria evoluir isso,'" ele relembra. "Todos os meus álbuns nos anos 80 foram diversos, mas a música estava sempre em segundo lugar, atrás das letras. Dessa vez eu queria que a música viesse em primeiro lugar."

Em seu novo projeto, Van Zandt começou com uma nova canção, "Summer of Sorcery" (ou "Verão de Feiticaria"), que ele diz que era "relativamente um novo território para mim — Eu não entrava nessa pegada Van Morrison com muita frequência." Começando com esse devaneio, uma nova ideia tomou corpo: o que ele chama de "um novo conceito sobre voltar atrás e experienciar  o primeiro verão de consciência, a primeira vez no amor, primeiras experiências na vida e aquela aventura de possibilidades ilimitadas."

Trabalhando com a sua banda atual, Van Zandt dirigiu aquele sentimento para dentro de Summer of Sorcery, o álbum mais eclético que ele já fez. Com lançamento definido para maio, dispensa canções de protesto e mergulha no rock, soul e R&B da sua infância nos anos 60. Em faixas como "Soul Power Twist", "Vortex" e "Love Again", ele retorna para aquele espírito da Costa de Jérsei que ele uma vez escreveu para o Southside Johnny and The Asbury Jukes. "Eu queria escrever músicas como aquelas para mim", ele diz. 

O álbum também se aventura no estilo pop do Phil Spector ("A World Of Our Own"), música latina ("Party Mambo") e rock de garagem ("Communion"). Ainda mais impressionantes são as letras, que evitam a autobiografia em favor de estudo de personagens, como o romântico apaixonado em "A World Of Our Own." "Todo cantor é um ator, e a música é o roteiro," ele diz. "E você está vendendo. Você está convencendo o público que você é quem você diz que é. Nesse caso, eu tive que habitar o corpo daquela pessoa e eu atuei e cantei junto com aqueles diferentes filmes que exigiam que minha cantoria fosse diferente."

Os resultados são particularmente sentidos em "Suddenly You", que apresenta um raro ronronar de Van Zandt. Ele também aponta para a dançante "Love Again", que ele chama "uma completa fantasia" inspirada por pop de uma época passada. "Eu estava pensando em Sam Cooke cantando 'Eu não tenho ninguém...' [em 'Another Saturday Night'] mesmo que ele tivesse transando com duas ou três garotas por dia!" Steven ri. "Mas não há nada autobiográfico sobre essa aí."



Ainda assim, Van Zandt não pôde excluir totalmente os eventos atuais. "Superfly Terraplane" retrata uma nova geração anti-armas e pró mídias sociais, enquanto "Gravity" lamenta o estado denegrido do país. ("Dois mil anos de músculo/Você estragou tudo tentando ser o chefe"). "Eu não pude evitar," ele dá de ombros. "Isso me puxou de volta."

No entando ele admite a ironia de fazer um álbum menos politizado durante uma das épocas mais tumultuadas do país. "Eu tive isso com 'Soulfire' também: "O que você está fazendo?'" ele diz. "É inacreditável o que está acontecendo. Estamos em guerra civil aqui. Mas minha utilidade agora é tentar unir as pessoas e encontrar um ponto em comum." Van Zandt aprendeu uma dura lição quando ele lançou a 'TeachRock', um programa educacional baseado na história do rock para as escolas do país. "Eu não apoiei o Obama e eu não critiquei o Trump," ele diz. "TeachRock é a maior coisa que eu fiz na minha vida, e eu não queria um professor no Alabama dizendo, 'Eu não quero seguir o programa desse esquerdista."

Van Zandt vai levar as canções de "Summer of Sorcery" para a estrada começando nesse inverno até outubro. Ele não ouviu nada ainda sobre o futuro dos serviços com a E Street Band, mas ele sabe que precisa tirar vantagem dessa pausa — e da chance de tocar suas próprias músicas — o quanto for possível. "Se o Bruce voltar, nós podemos ficar fora por dois anos."

Até isso acontecer, assumindo que acontecerá, Van Zandt diz que ele vai gostar de se afastar de si mesmo. "Não há nada mais produtor de ansiedade do que tentar entender a si mesmo, " ele diz. "É exaustivo."

Entrevista original: https://www.rollingstone.com/music/music-features/steven-van-zandt-interview-new-album-summer-sorcery-803214/

0 Comentários