Relembrando Shows #2: A festa sem hora para acabar


Springsteen é reconhecido mundialmente pelos seus shows há bastante tempo e poucos poderiam imaginar que ele atingiria o auge em cima dos palcos aos sessenta anos de idade. Foi na Turnê Wrecking Ball que isso ficou mais claro. Cada noite era diferente da outra, tinha sua própria particularidade. lá foi onde o cantor tornou a arte de recolher pedidos de cartazes da plateia uma rotina e os shows ficaram cada vez mais longos. A festa não tinha hora para terminar, e bem, também não tinha hora de começar, já que por diversas vezes ele subia ao palco horas antes do início do show para cumprimentar o público que já havia chegado e tocar algumas canções no violão.

Uma dessas grandes noites aconteceu em 31 de julho de 2012, onde Bruce chegou a bater o recorde de show mais longo da carreira, com cerca de quatro horas e seis minutos de música. Um mês antes, o guitarrista da E Street Band, já havia previsto o que estava por vir durante a turnê em entrevista para a Rolling Stone.

"Bem, nós não sabemos ainda como é tocar por quatro horas, chegamos até 3h48m. Eu não me surpreenderia se ultrapassássemos isso. Nós não planejamos esse tipo de coisa. Não há jeito de prever. Nós não olhamos para o relógio. Nós nos transportamos para um fuso horário totalmente diferente em cima do palco.

[..] E Bruce e a prova viva do que acontece se você não usar drogas a vida inteira. Digo, ele "toma uma" aqui e ali, mas ele nunca foi de beber. [...] Não use drogas. Não beba, coma direito e vá para a academia e você ainda pode mandar ver aos 62."

O Olympiastadion já havia recebido a E Street Band três vezes em sua história e aquela terça-feira ensolarada já dava sinais de que seria um dia especial. Eram 18:30 da tarde e cerca de 5000 fãs que já estavam dentro do estádio viram um Springsteen de camiseta cinza e óculos escuros carregando seu violão entrando no palco.


Bruce ficou por mais de meia hora tocando algumas canções e conversando com a plateia. Foram cinco no total, dentre elas "I'll Work For Your Love", "Leap Of Faith" e "Blinded By The Light", que sequer haviam estreado na turnê ainda. Ele ainda cantou "No Surrender" e "For You".

Antes de voltar para os bastidores, Springsteen desceu do palco e foi até os fãs. Dentre apertos de mãos e beijos das finlandesas, ele também recolheu alguns cartazes com pedidos de músicas que ele usaria logo mais. "Obrigado a todos vocês por tornarem um verão adorável para nós. Nos vemos daqui a pouco!".


O show teve início às 19:53 quando Bruce declarou "Essa é a nossa última parada pela Europa, então, vamos fazer direito!" e emendou mais uma inédita na turnê, um cover de "Rockin' All Over The World", do John Fogerty. 

O concerto continuou com os destaques de "Loose Ends", "Prove It All Night" (a versão longa), e uma versão poderosa de quase vinte minutos de "My City Of Ruins", onde o Chefe apresentou a banda e fez uma verdadeira pregação para as 45 mil pessoas que assistiam.

"Essa é uma canção que eu escrevi sobre a minha cidade natal e ela tentando voltar a ficar de pé e o significado veio mudando um pouco ao longo do caminho. Essa é uma música sobre o que você perde, sobre o que você se agarra. Os espíritos que permanecem para sempre e as coisas que você tem que deixar partir."

Antes do Bis, o Chefe cantou três pedidos da plateia, "Does This Bus Stop At 82nd Street?", "Light Of Day" e "Back In Your Arms", em uma versão igualmente bela, como a de "My City Of Ruins". Só que aqui a canção se trata de arrependimento amoroso.

"Alguém aqui ja estragou uma coisa boa? Com alguma mulher ou algum homem? Você achava que estava certo, e com razão... e então já era tarde demais. Não adianta mais implorar." Então Springsteen pede para o baterista, Max Weinberg: "Max, se eu vou implorar, eu preciso ouvir o som de mim implorando...". Então quando Bruce se ajoelha no chão, Max reproduz um barulho na bateria. E o Chefe brinca: "Esse também é o barulho da porta batendo na sua cara".

O restante da primeira parte do show contou com o setlist padrão da turnê, com a agradável surpresa de "Be True" e a divertida interação do cantor e da plateia no início e no final de "Shackled and Drawn".


No Bis, além das clássicas Born In The USA, Born to Run, Tenth Avenue Freeze-Out e Dancing In The Dark, onde Bruce chamou três mulheres no palco para dançar, os finlandeses ainda ouviram "Detroit Medley" e "I Don't Want To Go Home", um pedido especial de uma mulher da plateia. Bruce leu o cartaz: "O que diz aqui? 80 Dias... Depois de 80 dias Eu Não Quero Ir Para Casa." E então leu os vários shows em que a fã esteve nessa turnê pelo Europa. "Uau, eu te devo uma, menina. Nós não sabemos os acordes, mas nós podemos cantá-la, certo?" E então se juntou ao Stevie para um dueto.

A festa terminou com F maiúsculo, com a presença do empresário de longa data do Chefe, Jon Landau, no palco tocando guitarra. As duas saideiras da noite foram o cover de Jackie Wilson, "Higher And Higher" e a famosa "Twist And Shout", onde durante a música Stevie puxou da plateia um cartaz com os dizeres "Passamos das 4 horas!?". Ao ler o cartaz, Bruce disse: "Nós vamos ter que celebrar!!!" E Twist and Shout terminou de forma épica às 23:59, tornando esse o recorde do cantor em cima dos palcos.


Se você não esteve na Finlândia em 2012 não tem problema. O Youtube da Bruce Springsteen Brasil vai transmitir tanto o pré-show quanto o show ao vivo no próximo sábado (20/06/2020) para vivermos um pouco do que foi essa noite histórica.

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